Depoimento – Daniela Satie Maekawa (MEXT – Pesquisa)

Depoimento – Daniela Satie Maekawa (MEXT – Pesquisa)

Alô, mãe? Então, liguei no consulado, e sabe de uma coisa? Sua filha está indo pro Japão! Mãe? Que barulho é esse?

– É seu pai, filha… ele esta soltando fogos de artifício na rua.

Nunca vou me esquecer deste dia. Posso imaginar meu pai soltando fogos de artifício nas ruas da pequena cidade de Juruena, no interior de Mato Grosso, onde nasci e vivi até meus 15 anos de idade. Mas, deixe-me começar essa história do princípio…

Estava cursando Biologia na Universidade Federal do Mato Grosso, quando resolvi fazer umas aulas de Japonês na Nippo, Associação de Japoneses, de Cuiabá-MT. Na porta havia um cartaz explicando sobre a bolsa MEXT ou Monbukagakusho. A única coisa que pensei foi… Monbu, o quê?

O prazo para as inscrições estava chegando ao fim e eu não conseguia me decidir se iria tentar, ou não. Seria capaz? Não iria passar na seleção, era apenas uma estudante de graduação, não falava Japonês, não tinha ninguém para me ajudar a escrever o projeto, não conhecia nenhum professor no Japão… sem contar que precisaria viajar duas vezes à São Paulo para prestar a prova e, talvez, apenas jogasse dinheiro fora.

Tinha todos os “nãos” e desculpas para justificar minha desistência. Mas… sabe quando as coisas fluem de modo tão natural que você chega a desconfiar? Então, decidi agir e me inscrevi no processo seletivo, afinal, das dezessete, só precisava de uma vaga. Escrevi o projeto, viajei a São Paulo, ganhei a bolsa (viva!), enviei alguns e-mails a Universidades diferentes e fui aceita pela Universidade de Kyoto. Três semanas depois de minha formatura no curso da faculdade, que aconteceu em março de 2009, estava pisando em solo, impecavelmente limpo, nipônico. As chuvas de pétalas de flores de cerejeira faziam parte da recepção. Surreal! Eram delicados tons de rosa e branco. Nunca tinha visto algo tão lindo, nem tão paradisíaco assim. Contemplei as águas brilhantes e vagarosas do rio Kamo, que corta a cidade no sentido norte-sul. Estava no lugar certo! Agradeci! Como poderia ter deixado de ver coisas tão belas? Um pensamento me veio à cabeça…“Ainda bem que eu tentei!” Yatta! Uhu!

Claro que nem tudo foram cerejeiras: as apresentações no laboratório, as madrugadas para terminar a dissertação do mestrado, a enorme saudade do pessoal no Brasil, e claro, o frio! Morei sete anos em Cuiabá, nunca passei tanto frio na minha vida! Mas tudo isso fazia parte, e era um processo normal.Em 2011, um Tsunami atingiu o Japão. Uma amiga japonesa teve sua casa afetada e a família dela perdeu vários bens. Quando ela me mostrou as fotos do que restara de sua casa, comecei a chorar… Ela me interrompeu…”Por que você está chorando? Pare! é hora de reconstruir!” Uma lição valiosa sobre a essência da cultura japonesa que me comove até hoje… A garra de um povo de olho puxado, mas que enxerga longe…

É uma grande vitória, quando você finalmente recebe seu diploma! Eu tive a felicidade de recebê-lo na presença de meus pais. Será que poderiam existir emoção e satisfação maiores do que realizar o sonho de meus pais de conhecer o Japão e tornar-me Mestre pela Universidade de Kyoto? Assim, gostaria de deixar aqui um resumo da minha experiência e algumas dicas para quem decidiu viver esta grande aventura!

Em três anos, aprendi lições que talvez demorassem dez, vinte, quiçá uma vida toda para aprender. Aprendi que o mundo é cheio de coisas lindas para se ver, mas que nada supera a harmonia, o amor e a solidariedade entre as pessoas e que não devemos perder tempo nos fazendo de vítimas, mas que devemos lutar pelo que queremos e criar nossas próprias oportunidades. Agradeço ao povo e ao Governo Japonês, por essa valiosa oportunidade e experiência de Vida!

Daniela Satie Maekawa

Kyoto University – Mestrado em Global Environmental Studies (2009/2012)

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